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A memória inconsciente de várias gerações

Há muitas gerações de inconscientes dos antepassados, vivos e atuantes, em nosso inconsciente e nosso inconsciente será transmitido às gerações futuras.

Em relação às várias gerações de antepassados por nós herdados é importante frisar que o inconsciente dos ancestrais faz parte de nosso inconsciente e que está em atividade dentro de nós, não é um arquivo morto.

Facilmente reconhecemos a herança do cabelo ondulado de nossa mãe, ou o nariz de nosso avô. Sabemos que certas famílias parecem mais sujeitas a determinadas doenças do que outras. Tem havido crescente reconhecimento da hereditariedade que vai muito além das características físicas, para incluir também a constituição psicológica. Quantas vezes ouvimos falar da ira ou teimosia percorrendo uma família? Mas, se estou sempre zangado, meu pai estava sempre zangado, e meu avô também, deve ter começado em alguma parte. A ira, em algum lugar na sua fonte é desamor que nunca foi curado.

As pessoas tendem a separar-se das experiências dolorosas e trancá-las lá no fundo. Excluem as lembranças de suicídios, abortos, insanidades, mortes violentas, abusos em suas famílias. Escondem-se delas emocionalmente. Muitas famílias têm estes esqueletos escondidos nos armários, e, porque estão trancados sem ter sido curados, estão, para todos os fins práticos, "enterrados vivos", ficam inatendidos, sem reconciliação.

O que acontece com algo que está enterrado vivo? Na realidade, não fica enterrado. Quando somos tratados com desamor, ficamos feridos. Agindo com desamor ferimos os outros. Parece ser verdade que muitas pessoas que não resolvem suas respostas a experiências negativas, continuam a reproduzir esses acontecimentos, vez após vez, anos a fio. Quando os assuntos são atendidos sadiamente quando ocorre um acontecimento, as pessoas podem, normalmente, deixar em paz o acontecimento. Muitas feridas velhas, não resolvidas e não perdoadas, parecem ser "herdadas" ou geneticamente codificadas no sistema e vir à tona em futuras gerações. Há feridas não resolvidas tão fortes, que passam à linha de famílias e ficam ressurgindo para ser resolvidas em gerações futuras. Poderíamos dizer que, em alguns casos, as feridas são mais antigas que a pessoa que está expressando a sua dor. Certamente todos já experimentamos a seguinte sensação : "Não posso entender meu comportamento. Deixo de fazer as coisas que quero, e me vejo fazendo coisas que detesto." Como podemos desvencilhar-nos dos padrões profundamente infiltrados, de origem desconhecida, nos quais nos sentimos presos?

As famílias são os blocos que constroem a sociedade. Quando uma família se esforça por viver unida em amor não egoísta, gerações são tão entretecidas que uma semeia e outra colhe - às vezes lentamente, às vezes pulando uma geração ou duas. No entanto mesmo que um só membro da família passe a trabalhar seus traumas profundamente ele pode ser instrumento de libertação de todos os outros naquela árvore genealógica ou em uma determinada família.

Além de herdar, se transmite o inconsciente às gerações futuras, pode assustar pela responsabilidade que dá, mas pode confortar. Isto porque todo esforço pessoal de crescimento em termos de humanização irradiará um inconsciente mais sadio e positivo aos descendentes e trará o consolo de ver-se o fruto deste esforço nos netos e bisnetos.