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Constelações Familiares

Bert Hellinger é um renomado psicanalista, psicoterapeuta sistêmico, poeta, filósofo e autor. Ele criou, ao longo de muitos anos de prática clínica, um verdadeiro modelo de psicoterapia psicanalítica na qual o espiritual, a energia primal e a ancestralidade terapeuticamente confluem em um sistema relacionado que forma gerações de trabalho em grupo. Seu método de Constelações Familiares revolucionou o campo da psicologia na Europa e agora está ganhando reconhecimento no Brasil.

Nascido como Anton Hellinger em uma família católica na Alemanha em 1925. Aos 10 anos, ele deixou sua família para frequentar uma escola mosteiro católico dirigido pela ordem em que ele mais tarde foi ordenado para a África do Sul como um missionário. Em 1942, Hellinger foi convocado para o exército alemão regular. Ele viu o combate na frente ocidental. Em 1945, ele foi capturado e aprisionado em um campo de prisioneiros aliados na Bélgica. Depois de escapar do campo de prisioneiros, Hellinger fez o seu caminho de volta para a Alemanha.

Hellinger entrou em uma ordem religiosa católica, tomando o nome religioso Suitbert, que é a fonte de seu primeiro nome "Bert". Ele estudou filosofia e teologia na Universidade de Wrzburg a caminho de sua ordenação como sacerdote. No início de 1950, ele foi enviado à África do Sul, onde foi designado para ser um missionário para os Zulus. Lá ele continuou seus estudos na Universidade de Pietermaritzburg e da Universidade da África do Sul, onde recebeu um BA e um Diploma de Ensino, que lhe confere o direito de ensinar em escolas públicas. Hellinger viveu na África do Sul por 16 anos. Durante esses anos ele serviu como pároco, professor e, finalmente, como diretor de uma grande escola para os estudantes africanos. Ele também tinha a responsabilidade administrativa do distrito diocesanas contendo 150 escolas. Lá tornou-se fluente na língua Zulu, participou em seus rituais, e ganhou o apreço pela sua visão de mundo distinta.

Sua participação em uma série de inter-raciais, formação ecumênica na dinâmica do grupo liderado pelo clero anglicano da África do Sul no início dos anos 1960 estabeleceu as bases para a sua saída do sacerdócio católico. Começara aí a trabalhar em uma fenomenológica orientação e estava preocupados com o reconhecimento de que é a essencial de toda a diversidade presente, sem intenção, sem medo, sem preconceitos, confiando apenas no que aparece. Ele estava profundamente impressionado pela forma como os seus métodos mostraram que era possível para tornar-se opostos reconciliados através do respeito mútuo. O início de seu interesse em fenomenologia coincidiram com a dissolução do desdobramento de seus votos para o sacerdócio.

Depois de deixar o sacerdócio, ele conheceu sua primeira esposa, Herta, e casou-se, pouco depois de regressar à Alemanha. oEle passou vários anos na década de 1970 na formação de Viena, em um curso clássico de psicanálise na Fr Wiener Arbeitskreis Tiefenpsychologie (Associação Vienense de Psicologia Profunda). Ele completou a sua formação no Arbeitsgemeinschaft Mnchner fr Psicanálise (Instituto de Formação Psicanalítica de Munique) e foi aceito como um membro praticante da sua associação profissional.

Em 1973, ele deixou a Alemanha pela segunda vez, e viajou para os EUA para ser tratado por nove meses por Arthur Janov, de onde herdou muitas influências importantes que moldaram sua abordagem. Uma das mais significativas foram as de Eric Berne e da análise transacional. Aproximando-se 70 anos de idade, ele não tinha nem documentos de suas idéias e abordagem, nem alunos treinados para exercer os seus métodos. Ele confiou ao psiquiatra alemão Gunthard Weber para gravar e editar uma série de transcrições de suas oficinas. Weber publicou o livro, em 1993, sob o título Zweierlei Gluck [Caprichoso Good Fortune, também conhecido como Second Chance]. Ele pretendia vender duas mil cópias na comunidade de psicoterapeutas alemães interessados em abordagens alternativas. Para surpresa de todos, o livro foi recebido com aclamação e rapidamente se tornou um best-seller nacional, vendendo duzentas mil cópias. Durante os próximos 15 anos ele foi o autor ou co-autor de 30 livros.

Hellinger tem viajado muito, fazendo palestras, workshops e cursos de formação em toda a Europa, nos EUA, América Central e do Sul, Rússia, China e Japão. Chamado de alienado por alguns colegas pelo seu comportamento idiossincrático, como fazer declarações arrebatadoras que reduziu questões complexas a causas individuais ou a sua maneira de tratar os clientes, por vezes, num tom cáustico autoritário, não deixa de ser reconhecido como um homem extremamente inteligente.

Hoje Hellinger vive com sua segunda esposa Maria Sophie Hellinger que o auxilia na Escola Hellinger em Berchtesgaden na Alemanha. Como funciona o Trabalho em um encontro de Constelações Familiares.

O Trabalho de Constelações Familiares foi projetado para pessoas e casais interessados em resolver as questões e que procuram encontrar uma base sólida para novos rumos em suas vidas.

Constelações Familiares podem permitir aos participantes:
• Resolver mal-entendidos, emaranhamentos e bloqueios na família, relacionamentos e outros parceiros;
• Ruptura de ciclos de desconexão, alienação, abuso de disfunção, e da pobreza;
• Situações familiares dolorosas;
• Lidar positivamente com doença grave e morte;
• Descobrir razões para o sofrimento físico e emocional e tomar medidas para a cura (ou seja, enxaqueca, asma, distúrbios alimentares, dor nas costas crônica, depressão, ansiedade e fobias, tendências suicidas, abuso de drogas e álcool);
• Entender qualquer situação de vida;
• Se libertar de conflitos profissionais.

A dinâmica de Constelações Familiares é uma forma altamente eficaz de reequilíbrio em um nível energético, com a duração e frequência de mudança de vida e resultados a longo prazo. Os participantes das oficinas são frequentemente surpreendidos pela emoção quando o amor revela conexões ocultas e complicações dentro de seus sistemas são revelados. Por exemplo, poderíamos imaginar que os problemas de infelicidade ou a saúde podem ser conectado a uma criança natimorta de nossa avó? Ou que as dificuldades com o parceiro atual pode estar relacionado a um aborto há 15 anos, ou mesmo para com desentendimentos com sua mãe? Que uma doença grave de uma criança pode ser causado por uma adoção? Enredos ocultos deste tipo são encontrados por trás questões mais pessoais e até profissionais. Restabelecer o equilíbrio e harmonia ao sistema familiar é igualmente importante para enfrentar a doença física - de menor dor nas costas ao câncer - como o é para o sofrimento emocional e mental. A constelação familiar é o principal processo para revelar a dinâmica escondida em uma família, para que possam ser trabalhadas e curados.

Como funciona uma dinâmica?
As dinâmicas começam com o lançamento de um participante informando com sua questão ou problema. Nenhum história, teatro, descrições são compartilhados. Em seguida, o participante escolhe entre os doadores energéticos (pessoas presentes) para representar certos membros da família, vivo ou morto, e os posicionam em relação uns aos outros de acordo com a sua foto interna do sistema. Isso cria um campo de energia em que todos os participantes começam a receber informação (sensações físicas, emoções, pensamentos, etc), relacionados com o membro da família a quem eles estão representando. Cada mudança de posição dentro da constelação afeta as informações recebidas.

Como resultado, previamente subconsciente, laços de família, muitas vezes trágico são feitos de forma perceptível e da dinâmica que causou problema do participante pode ser descoberto. Com as informações fornecidas pelos representantes, e os passos usando, como rituais de agradecimento ou desprendimento, a constelação pode agora ser reestruturada de acordo com as "Ordens do Amor" em um sistema familiar equilibrado, onde o amor, fluindo de forma consciente e livre, cura e culpa, Uma vez aceite, pode se transformar em energia.

Constelações Familiares: Para o Amor dar Certo (casais)
Amar e ser amado é o que todos desejamos do berço à velhice, mas nem sempre o caminho está aberto para viver o mais básico dos sentimentos. Segundo Bert Hellinger, teólogo e terapeuta alemão, há como desemaranhar os laços afetivos e refazer o fluxo do amor com mais consciência e menos ilusão.

“É suficiente ter um bom parceiro, não precisa ser perfeito, pois o que é perfeito não se desenvolve, já está pronto. A imperfeição é estimulante e permite às duas pessoas crescerem juntas”, defende o terapeuta alemão Bert Hellinger, 78 anos, autor do livro Para que o Amor Dê Certo (recém-lançado pela ed. Cultrix). Há mais de três décadas ele trabalha fazendo atendimentos individuais e para casais e, baseado nessa vasta experiência, sistematizou o método chamado constelações familiares, que busca primeiramente restabelecer o fluxo do amor entre pai, mãe e irmãos para depois rever os laços com parceiros amorosos. Bert desfaz qualquer imagem de amor baseada em ilusões – ele acredita que esse sentimento pode se expandir na medida em que reconhecemos e agradecemos o que cada relacionamento acrescentou a nossa vida.

O desejo de amar e ser correspondido é universal, por isso o método de Bert não encontra barreiras culturais e desperta interesse em países muito diferentes. Ele frequentemente trabalha na Europa, Japão, China, México, Colômbia, Nicarágua, Canadá e Estados Unidos e atrai grandes platéias. “Há poucos dias, estive na Áustria, e 1,2 mil pessoas vieram me ouvir. Gosto de partilhar minhas descobertas. Nos livros, escrevo que o amor deve ser trocado, deve ser dado e recebido todo o tempo. Dar e receber é um ótimo equilíbrio”, disse ele em entrevista a Bons Fluidos, no intervalo de uma de suas inúmeras viagens.

Em paz com o passado.

Em sua terapia do amor, Hellinger coloca como imprescindível reconhecer a aceitação do afeto experimentado em relações anteriores: um novo amor só poderá ser bem-sucedido se houver o reconhecimento de tudo o que nos foi dado pelos demais relacionamentos. A primeira relação amorosa tem influência sobre todas as outras, constata. Segundo o terapeuta, a rejeição consciente ou inconsciente de amores passados bloqueia a força de um novo amor. “Se você amar alguém depois, não poderá agir como se não tivesse vivido outro amor antes. Se aceitar o que viveu, com respeito aos antigos parceiros, as próximas relações poderão ser mais enriquecedoras do que se você for vivê-las como se fosse a primeira.”

Tudo começa na família.

Muitos dos problemas de relacionamento (do casal e com os filhos) que acontecem no presente, na verdade têm a ver com laços familiares antigos, com a forma como nossos pais, avós, bisavós lidaram com a exclusão, a doença, a morte ou o esquecimento de entes muito próximos. Essa é a base da terapia das constelações familiares, resultado da experiência e da observação do alemão Bert Hellinger em seu trabalho de atendimento individual e a casais durante mais de três décadas. As ordens da ajuda (Constelação) Uma síntese ampliada (Maio, 2003)

Fonte: Home-page de Bert Hellinger:
www.hellinger.com
Tradução: Newton A. Queiroz
Setembro de 2003

Advertência do tradutor
Acho necessário dar um breve esclarecimento prévio sobre os dois vocábulos-chave do presente texto.

1. Ajuda, ajudante
O título original do artigo é Die Ordnungen des Helfens, literalmente: As Ordens do Ajudar, que prefiro traduzir por As Ordens da Ajuda, por ser mais consoante com nosso uso. Assim, deve-se entender por ajuda, no presente texto, principalmente a maneira de ajudar e a atitude de quem presta ajuda. Quem presta ajuda – no mais das vezes, profissionalmente – é o que Hellinger denomina “der Helfer”, e que traduzimos literalmente, na falta de termo melhor, por “o ajudante”. Nesta categoria estão compreendidos principalmente os que profissionalmente prestam assistência a outras pessoas (o médico, o terapeuta, o assistente social, o sacerdote...), como também aqueles que o fazem voluntariamente, em caráter não profissional.

2. Ordens
As “ordens”, no sentido típico de Bert Hellinger, são as leis, princípios ou ordenações básicas preestabelecidas, que devem presidir nossos comportamentos. Assim, as "ordens do amor” são as leis que devem presidir nossos relacionamentos, para que o amor seja bem sucedido, e cujo desconhecimento ou desrespeito pode ocasionar conseq.ncias funestas.

No presente texto, Bert Hellinger fala das ordens que devem presidir toda iniciativa de levar ajuda ao próximo e, de modo especial, a ação com objetivo ou efeito terapêutico.

A ajuda é uma arte. Como toda arte, envolve uma capacidade que pode ser aprendida e praticada. E envolve empatia em relação ao objeto, a saber, a compreensão do que corresponde a esse objeto e, simultaneamente, daquilo que o eleva, por assim dizer, acima de si mesmo, em algo mais abrangente.

Ajuda como compensação
Nós, seres humanos, dependemos, sob todos os aspectos, da ajuda dos outros, como condição de nosso desenvolvimento. Ao mesmo tempo, precisamos também de ajudar outras pessoas. Aquele de quem não se necessita, aquele que não pode ajudar outros, fica só e se atrofia. O ato de ajudar serve, portanto, não apenas aos outros, mas também a nós mesmos. Via de regra, a ajuda é um processo recíproco, por exemplo, entre parceiros. Ela se ordena pela necessidade de compensar. Quem recebeu de outros o que deseja e precisa, também quer dar algo, por sua vez, compensando a ajuda.

Muitas vezes, a compensação que podemos fazer através da retribuição é limitada. Isso ocorre, por exemplo, em relação a nossos pais. O que eles nos deram é excessivamente grande, para que o possamos compensar dando-lhes algo em troca. Só nos resta, em relação a eles, o reconhecimento pelo que nos deram e o agradecimento que vem do coração. A compensação pela doação, com o alívio que dela resulta, só se consegue, nesse caso, repassando essa dádiva a outras pessoas: por exemplo, aos próprios filhos. Portanto, o processo de tomar e de dar se processa em dois diferentes patamares. O primeiro, que ocorre entre pessoas equiparadas, permanece no mesmo nível e exige reciprocidade. O outro, entre pais e filhos, ou entre pessoas em condição superior e pessoas necessitadas, envolve um desnível. Tomar e dar se assemelham aqui a um rio, que leva adiante o que recebe em si. Essa forma de tomar e dar é maior, e tem em vista também o que virá depois. Nesse modo de ajudar, o que foi doado se expande. Aquele que ajuda é tomado e ligado a uma realização maior, mais rica e mais duradoura.

Esse tipo de ajuda pressupõe que nós próprios tenhamos primeiro recebido e tomado. Pois só então sentimos a necessidade e temos a força para ajudar a outros, especialmente quando essa ajuda exige muito de nós. Ao mesmo tempo, ela parte do pressuposto de que as pessoas a quem queremos ajudar também necessitam e desejam o que podemos e queremos dar a elas. Caso contrário, nossa ajuda se perde no vazio. Então ela separa, ao invés de unir.

A primeira ordem da ajuda
A primeira ordem da ajuda consiste, portanto, em dar apenas o que temos, e em esperar e tomar somente aquilo de que necessitamos. A primeira desordem da ajuda começa quando uma pessoa quer dar o que não tem, e a outra quer tomar algo de que não precisa; ou quando uma espera e exige da outra algo que ela não pode dar, porque não tem. Há desordem também quando uma pessoa não tem o direito de dar algo, porque com isso tiraria da outra pessoa algo que somente ela pode ou deve carregar, ou que somente ela tem a capacidade e o direito de fazer. Assim, o dar e o tomar estão sujeitos a limites, e pertence à arte da ajuda percebê-los e respeitá-los.

Essa ajuda é humilde, e muitas vezes, em face da expectativa e da dor, ela renuncia a agir. O trabalho com as constelações familiares coloca diante de nossos olhos o que deve exigir quem ajuda, tanto de si mesmo quanto da pessoa que busca ajuda. Essa humildade e essa renúncia contradizem muitas concepções usuais sobre a correta maneira de ajudar, e frequentemente expõem o ajudante a graves acusações e ataques.

A segunda ordem da ajuda
A ajuda está a serviço da sobrevivência, por um lado, e da evolução e do crescimento, por outro. Todavia, a sobrevivência, a evolução e o crescimento também dependem de circunstâncias especiais, tanto externas quanto internas. Muitas circunstâncias externas são preestabelecidas e não são modificáveis: por exemplo, uma doença hereditária, as consequências de acontecimentos ou de uma culpa.

Quando a ajuda deixa de considerar as circunstâncias externas ou se recusa a admiti-las, ela se condena ao fracasso. Isto vale, com maior razão, para as circunstâncias internas. Elas incluem a missão pessoal particular, o envolvimento nos destinos de outros membros da família, e o amor cego que, sob o influxo da consciência, permanece vinculado ao pensamento mágico. O que isso significa em casos particulares eu expus exaustivamente em meu livro “ Ordens do Amor”, no capítulo “Do céu que faz adoecer, e da terra que cura”.

Para muitos ajudantes, o destino da outra pessoa pode parecer difícil, e gostariam de modificá-lo; não, porém, muitas vezes, porque o outro o necessite ou deseje, mas porque os próprios ajudantes dificilmente suportam esse destino. E quando o outro, não obstante, se deixa ajudar por eles, não é tanto porque precise disso, mas porque deseja ajudar o ajudante. Então, quem ajuda realmente está tomando, e quem recebe a ajuda se transforma em doador.

A segunda ordem da ajuda é, portanto, que ela se amolde às circunstancias e só intervenha com apoio na medida em que elas o permitem. Essa ajuda mantém reserva e possui força. Há desordem da ajuda, neste caso, quando o ajudante nega as circunstâncias ou as encobre, ao invés de encará-las, juntamente com a pessoa que busca a ajuda. Querer ajudar contra as circunstâncias enfraquece tanto o ajudante quanto a pessoa que espera ajuda ou a quem ela é oferecida ou mesmo imposta.

O protótipo da ajuda
O protótipo da ajuda é a relação entre pais e filhos e, principalmente, a relação entre a mãe e o filho. Os pais dão, os filhos tomam. Os pais são grandes, superiores e ricos, ao passo que os filhos são pequenos, necessitados e pobres. Contudo, porque os pais e os filhos são ligados entre si por um profundo amor, o dar e o tomar entre eles pode ser quase ilimitado. Os filhos podem esperar quase tudo de seus pais. E os pais estão dispostos a dar quase tudo a seus filhos. Na relação entre pais e filhos, as expectativas dos filhos e a disposição dos pais para atendê-las são necessárias; portanto, estão em ordem.

Contudo, elas só estão em ordem enquanto os filhos ainda são pequenos. Com o avançar da idade, os pais vão impondo aos filhos, em escala crescente, limites com os quais eles eventualmente se atritam e podem amadurecer. Estarão sendo os pais, nesse caso, menos bondosos para com seus filhos? Seriam pais melhores se não colocassem limites? Ou, pelo contrário, eles se manifestam como bons pais justamente ao exigirem de seus filhos algo que também os prepara para uma vida de adultos? Muitos filhos ficam então com raiva de seus pais, porque preferem manter a dependência original. Contudo, justamente porque os pais se retraem e desiludem essas expectativas, eles ajudam seus filhos a se livrarem dessa dependência e, passo a passo, a agirem por própria responsabilidade. Só assim os filhos tomam o seu lugar no mundo dos adultos e se transformam de tomadores em doadores.

A terceira ordem da ajuda
Muitos ajudantes, por exemplo, na psicoterapia e no trabalho social, acham que precisam ajudar os que lhes pedem ajuda, da mesma forma como os pais ajudam seus filhos pequenos. Inversamente, muitos que buscam ajuda esperam que os ajudantes se dediquem a eles como os pais se dedicam a seus filhos, no intuito de receber deles, tardiamente, o que esperam e exigem dos próprios pais. O que acontece quando os ajudantes correspondem a essas expectativas? Eles se envolvem numa longa relação. Aonde leva essa relação? Os ajudantes ficam na mesma situação dos pais, em cujo lugar se colocaram com essa vontade de ajudar.

oPasso a passo, eles precisam impor limites aos que buscam ajuda, decepcionando-os. Então estes desenvolvem frequentemente, em relação aos ajudantes, os mesmos sentimentos que tinham antes em relação a seus pais. Assim, os ajudantes que se colocaram no lugar dos pais, querendo mesmo, talvez, ser pais melhores, tornam-se, para os clientes, iguais aos pais deles. Porém muitos ajudantes permanecem presos na transferência e na contratransferência da relação entre filho e pais. Com isso, dificultam ao cliente a despedida, tanto de seus pais quanto dos próprios ajudantes. Ao mesmo tempo, uma relação segundo o modelo da transferência entre pais e filhos impede também o desenvolvimento pessoal e o amadurecimento do ajudante.

Vou ilustrar isso com um exemplo:
Quando um homem jovem se casa com uma mulher mais velha, ocorre a muitos a imagem de que ele procura um substitutivo para sua mãe. E o que procura ela? Um substitutivo para seu pai. Inversamente, quando um homem mais velho se casa com uma moça mais jovem, muitos dizem que ela procurou um pai. E ele? Procurou uma substituta para sua mãe. Assim, por estranho que soe, quem se obstina por muito tempo numa posição superior e mesmo a procura e quer manter, recusa-se a assumir seu lugar entre adultos equiparados. Existem, porém, situações, em que convém que, por algum tempo, o ajudante represente os pais: por exemplo, quando um movimento amoroso precocemente interrompido precisa ser levado a seu termo. Contudo, diferentemente da transferência da relação entre pais e filhos, o ajudante apenas representa aqui os pais reais. Ele não se coloca em lugar deles, como se fosse uma mãe melhor ou um pai melhor. Por esta razão, também não é preciso que o cliente se desprenda do ajudante, pois este o leva a afastar-se dele e a voltar-se para os próprios pais. Então o ajudante e cliente se liberam mutuamente.

Mediante a adoção desse padrão de sintonia com os pais verdadeiros, o ajudante frustra, desde o início, a transferência da relação entre os pais e o filho. Pois, quando respeita em seu coração os pais do cliente, e fica em sintonia com esses pais e seus destinos, o cliente encontra nele os seus pais, dos quais já não pode esquivar-se. A mesma coisa vale quando o ajudante precisa lidar com crianças ou deficientes físicos. Na medida em que ele apenas representa os pais, e não se coloca em seu lugar, os clientes podem sentir-se em segurança com ele.

A terceira ordem da ajuda seria, portanto, que, diante de um adulto que procura ajuda, o ajudante se coloque igualmente como um adulto. Com isso, ele recusa as tentativas do cliente para fazê-lo assumir o papel dos pais. É compreensível que essa atitude do ajudante seja sentida e criticada, por muitas pessoas, como dureza. Paradoxalmente, essa “dureza” é criticada por muitos como arrogância. Quem olha bem, vê que a arrogância consistiria antes no envolvimento do ajudante numa transferência da relação entre pais e filho.

A desordem da ajuda consiste aqui em permitir a um adulto que faça ao ajudante as exigências de um filho a seus pais, para que o trate como criança e o poupe de algo pelo qual somente o cliente pode e deve carregar a responsabilidade e as consequências. É o reconhecimento dessa terceira ordem da ajuda que constitui a mais profunda diferença entre o trabalho das constelações familiares e psicoterapia habitual.

A quarta ordem da ajuda
Sob a influência da psicoterapia clássica, muitos ajudantes frequentemente encaram seu cliente como um indivíduo isolado. Com isso, também se expõem facilmente ao risco de assumirem a transferência da relação entre pais e filho. Contudo, o indivíduo é parte de uma família. Somente quando o ajudante o percebe assim é que ele percebe de quem o cliente precisa, e a quem ele possivelmente está devendo algo.

O ajudante realmente percebe o cliente a partir do momento em que o vê junto com seus pais e antepassados, e talvez também junto com seu parceiro e com seus filhos. Então ele percebe quem, nessa família, precisa principalmente de sua atenção e de sua ajuda, e a quem o cliente precisa dirigir-se para reconhecer os passos decisivos e levá-los a termo. Isto significa que a empatia do ajudante precisa ser menos pessoal e – principalmente – mais sistêmica. Ele não se envolve num relacionamento pessoal com o cliente. Esta é a quarta ordem da ajuda.

A desordem da ajuda, neste caso, consistiria em não contemplar nem honrar outras pessoas essenciais, que teriam em suas mãos, por assim dizer, a chave da solução. Incluem-se entre elas, sobretudo, aquelas que foram excluídas da família, por exemplo, porque os outros se envergonharam delas.

Também aqui é grande o perigo de que essa empatia sistêmica seja sentida como dureza pelo cliente, sobretudo por aqueles que fazem reivindicações infantis ao ajudante. Pelo contrário, aquele que busca a solução, de maneira adulta, sente esse enfoque sistêmico como uma liberação e uma fonte de força.

A quinta ordem da ajuda
O trabalho da constelação familiar aproxima o que antes estava separado. Nesse sentido, ele está a serviço da reconciliação, sobretudo com os pais. O que impede essa reconciliação é a distinção entre bons e maus membros da família, tal como é feita por muitos ajudantes, sob o influxo de sua consciência e de uma opinião pública presa nos limites dessa consciência. Por exemplo, quando um cliente se queixa de seus pais, das circunstâncias de sua vida ou de seu destino, e quando um ajudante se associa à visão desse cliente, ele serve mais ao conflito e à separação do que à reconciliação. Portanto, alguém só pode ajudar, no sentido da reconciliação, quando imediatamente dá um lugar em sua alma à pessoa de quem o cliente se queixa. Assim, o ajudante antecipa na própria alma o que o cliente ainda precisa realizar na sua.

A quinta ordem da ajuda é portanto o amor a cada pessoa como ela é, por mais que ela seja diferente de mim. Dessa maneira, o ajudante abre a essa pessoa o seu coração, de modo que ela se torna parte dele. Aquilo que se reconciliou em seu coração também pode reconciliar-se no sistema do cliente. A desordem da ajuda seria aqui o julgamento sobre outros, que geralmente é uma condenação, e a indignação moral associada a isso. Quem realmente ajuda, não julga.

A percepção especial
Para poder agir de acordo com as ordens da ajuda, não é preciso qualquer percepção especial. O que eu disse aqui sobre as ordens da ajuda não deve ser aplicado de forma precisa e metódica. Quem tentar isso estará pensando, ao invés de perceber. Ele reflete e recorre a experiências anteriores, em vez de se expor á situação como um todo e apreender dela o essencial. Por isso, essa percepção envolve ambos os aspectos: ela é simultaneamente direcionada e reservada. Nessa percepção, eu me direciono a uma pessoa, porém sem querer algo determinado, a não ser percebê-la interiormente, de uma forma abrangente, e com vistas ao próximo ato que se fizer necessário. Essa percepção surge do centramento.

Nela, eu abandono o nível das ponderações, dos propósitos, das distinções e dos medos, e me abro para algo que me move imediatamente, a partir do interior. Aquele que, como representante numa constelação, já se entregou aos movimentos da alma e foi dirigido e impelido por eles de uma forma totalmente surpreendente, sabe de que estou falando. Ele percebe algo que, para além de suas idéias habituais, o torna capaz de ter movimentos precisos, imagens internas, vozes interiores e sensações inabituais.

Esses movimentos o dirigem, por assim dizer, de fora, e simultaneamente de dentro. Perceber e agir acontecem aqui em conjunto. Essa percepção é, portanto, menos receptiva e reprodutiva. Ela é produtiva; leva à ação, e se amplia e aprofunda no agir. A ajuda que decorre dessa percepção é geralmente de curta duração. Ela fica no essencial, mostra o próximo passo a fazer, retira-se rapidamente e despede o outro imediatamente em sua liberdade. É uma ajuda de passagem. Há um encontro, uma indicação, e cada um volta a trilhar o próprio caminho. Essa percepção reconhece quando a ajuda é conveniente e quando seria antes danosa. Reconhece quando a ajuda coloca tutela ao invés de promover, e quando serve para remediar antes a própria necessidade do que a do outro. E ela é modesta.

Observação, percepção, compreensão, intuição, sintonia
Talvez seja útil descrever aqui ainda as diferentes formas de conhecimento, para que, quando ajudamos, possamos recorrer ao maior número delas que for possível, e escolher entre elas. Começo pela observação. A observação é aguda e precisa, e tem em vista os detalhes. Como é tão exata, é também limitada. Escapa-lhe o entorno, tanto o mais próximo quando o mais distante. Pelo fato de ser tão exata, ela é próxima, incisiva, invasiva e, de certa maneira, impiedosa e agressiva. Ela é condição para a ciência exata e para a técnica moderna decorrente dela. 

A percepção é distanciada. Ela precisa da distância. Ela percebe simultaneamente várias coisas, olha em conjunto, ganha uma impressão do todo, vê os detalhes em seu entorno e em seu lugar. Contudo, é imprecisa no que toca aos detalhes. Este é um dos lados da percepção. O outro lado é que ela entende o observado e o percebido. Ela entende o significado de uma coisa ou de um processo observação e percebido. Ela vê, por assim dizer, por trás do observado e do percebido, entende o seu sentido. Acrescenta, portanto, à observação e à percepção externa uma compreensão.

A compreensão pressupõe observação e percepção. Sem observação e percepção, também não existe compreensão. E vice-versa: sem compreensão, o observado e percebido permanece sem relação. Observação, percepção e compreensão compõem um todo. oSomente quando atuam em conjunto é que percebemos de uma forma que nos permite agir de forma significativa e, principalmente, também ajudar de uma forma significativa.

Na execução e na ação, frequentemente aparece ainda um quarto elemento: a intuição. Ela tem afinidade com a compreensão, assemelha-se a ela, mas não é a mesma coisa. A intuição é a compreensão súbita do próximo passo a dar. A compreensão é muitas vezes geral, entende todo o contexto e todo o processo. A intuição, em contraposição, reconhece o próximo passo e, por isso, é exata. Portanto, a relação entre a intuição e a compreensão é semelhante à relação entre a observação e a percepção. Sintonia é uma percepção a partir do interior, num sentido amplo. Como a intuição, ela também se direciona para a ação, principalmente para a ação de ajuda. A sintonia exige que eu entre na mesma vibração do outro, alcance a mesma faixa de onda, sintonize com ele e o entenda assim. Para entendê-lo, também preciso ficar em sintonia com sua origem, principalmente com seus pais, mas também com seu destino, suas possibilidades, seus limites, e também com as consequências de seu comportamento e de sua culpa; e, finalmente, com sua morte.

Ficando em sintonia, eu me despeço, portanto, de minhas intenções, de meu juízo, de meu superego e de suas exigências sobre o que eu devo e preciso ser. Isso quer dizer: fico em sintonia comigo mesmo, da mesma forma que com o outro. Dessa maneira, o outro também pode ficar em sintonia comigo, sem se perder, sem precisar temer-me. Da mesma forma, também posso ficar em sintonia com ele permanecendo em mim mesmo. Não me entrego a ele, mas mantenho distancia na sintonia. Com isso, ao ajudá-lo, posso perceber exatamente o que posso fazer e o que tenho o direito de fazer. Por esta razão, a sintonia é também passageira. Ela dura apenas enquanto dura a ação da ajuda. Depois, cada um volta à sua própria vibração. Por esta razão, não existe na sintonia transferência nem contratransferência, nem a chamada relação terapêutica. Portanto, um não assume a responsabilidade pelo outro. Cada um permanece livre do outro.

Sobre o movimento interrompido
Quando uma criança pequena não teve acesso à mãe ou ao pai, embora precisasse deles com urgência e ansiasse por eles, por exemplo, numa longa internação hospitalar, esse anseio se transforma em dor de perda, em desespero e raiva. A partir daí, a criança se retrai diante de seus pais e, mais tarde, também de outras pessoas, embora anseie por eles. Essas consequências de um movimento amoroso precocemente interrompido são superadas quando o movimento original é retomado e levado a seu termo. Nesse processo, o ajudante representa a mãe ou o pai daquele tempo, e o cliente pode completar o movimento interrompido, como a criança de então.

A não-ação do terapeuta
Um critério importante para o respeito é não querer curar nem salvar, atitude na qual encontramos grandes modelos. Mas é um bem comum da humanidade o compreender que a pessoa pode atuar através de sua mera presença, uma presença ativa, sem intervir. Trata-se de uma força concentrada que atua através da não ação, uma atitude que não tem nada a ver com o retirar-se. A abstenção não aporta nada. No “Tao Te King”, de Lao Tse, essa atitude está muito bem descrita. Há uma observação curiosa nas terapias: se ao terapeuta ocorre o que poderia ajudar e ele se abstém de dizer, a idéia ocorrerá ao paciente. Às vezes é mais fácil encontrar uma solução se o terapeuta renuncia a ela. Tampouco está em suas mãos influir no que os pacientes fazem com o que ele diz. A qualidade que distingue uma boa terapia é a ausência de intenções e de fins por parte do terapeuta, isto significa que eu, até certo grau, renuncio a exercer uma influência.

Intuição, amor e respeito
Distingo, rigorosamente, a percepção da observação. A observação conduz a conhecimentos parciais unidos a uma perda da visão global. Se observo o comportamento de uma pessoa, vejo tão só detalhes e a pessoa me escapa. Se, ao contrário, me exponho à percepção, se me escapam os detalhes, imediatamente capto o essencial, o núcleo; tudo a serviço do outro.

A percepção de outra pessoa unicamente é possível se me abro a ela desinteressadamente e disponho a relacionar-me. Desta maneira se desenvolve um laço muito íntimo, acompanhado, apesar de tudo, do mais alto respeito e de uma certa distância. A condição prévia é que a pessoa seja apreciada como especial e que não se estabeleça nenhuma norma a que tenha que subordinar-se. Aqui não se trata de correto ou falso, mas sim de encontrar ajuda e soluções. Em minha imaginação tenho a liberdade de julgar, mas enquanto percebo o outro levando em conta seus interesses, esta liberdade deixa de existir.

A percepção, portanto, unicamente pode ser afetiva se se refere à soluções. No que concerne aos diagnósticos, fracassa imediatamente, a não ser que os diagnósticos estejam inteiramente a serviço da solução. Toda intervenção que não se una às forças de desenvolvimento, por exemplo, fazendo suposições ou menosprezando a outros, tem um efeito contraproducente. O curioso é que uma pessoa a quem comunico o percebido se transforma ante meus olhos. A percepção, portanto, é um processo criativo com um certo efeito. Tudo isso abriga mistérios que não compreendo, mas que podem ver e serem aproveitados. Para a percepção o essencial é a realização de um ato e não a verdade. Sempre se trata de saber “o que faço agora?” “o que é possível?”. Isto é o que como terapeuta faço para o outro, ou seja, enquanto ele me relata algo, eu me pergunto “O que é adequado agora?”. Dessa maneira estou em contato com algo maior: não pretendo ajudar, senão que vejo todo o contexto de uma ordem. Assim, é a intuição que atua, cheia de amor e respeito.

Relacionamento de casal - Bert Hellinger
Relacionamento de casal têm a ver com a vida. Através do relacionamento de casal a vida é passada adiante. Mas de onde os casais têm a vida? A vida é deles? Ou ela apenas flui através deles? Ela flui através deles e vem de longe. Independentemente de como são o homem e a mulher, a vida flui através deles em sua plenitude. O homem e a mulher passam a vida adiante em sua totalidade, da mesma forma que a receberam em sua totalidade de seus pais, assim como os pais deles também a receberam de muito longe.

Então a vida independe de como são o pai e a mãe de uma criança. Sob este ângulo, podemos e precisamos olhar de outra forma para nossos pais, e os pais também precisam olhar de forma diferente para os seus filhos. Com reverência. O filho olha para os pais e olha através dos pais para um passado longínquo, de onde a vida vem originalmente. Quando toma a vida, toma a vida não apenas dos pais e sim de longe. Por isso todos os pais são certos. Sob este ângulo não existem pais melhores e piores. Existem apenas pais. Quando reconhecemos isso e a isso submetemos, podemos tomar de nossos pais a vida em sua totalidade. Porém, quem rejeita internamente um de seus pais, quem os acusa, fecha o coração diante da plenitude da vida. Recebe apenas uma parte ou, mais exatamente, toma apenas uma parte. Contudo, cada um de nós também, é determinado de um modo bem específico através dos pais. Tenho diante de mim a imagem de uma árvore. No outono, o vento sopra e espalha as sementes. Uma semente cai na terra fértil, uma outra na terra cheia de pedras e cada semente precisa desenvolver-se onde caiu, não pode escolher o lugar. Da mesma forma nós também não podemos escolher os nossos pais. Eles são o lugar de onde brota nossa vida, apenas aí. Independentemente de se a semente caiu em terra fértil ou em um solo cheio de pedras, ela se torna uma árvore de verdade e também dará frutos. A sua semente será espalhada novamente, e a mesma árvore crescerá diferentemente de ter vantagens ou desvantagens, cada lugar nos força a um desenvolvimento especial, tem chances especiais e coloca determinados limites. A vida é, tanto em um lugar como no outro, pura e autêntica.

O Primeiro Círculo do Amor -Bert Hellinger
O primeiro círculo do amor começa com o amor recíproco de nossos pais, como um casal. Foi desse amor que nascemos. Eles nos geraram e nos acolheram como seus filhos. Eles nos nutriram, abrigaram e protegeram por muitos anos. Tomar deles amorosamente esse amor é o primeiro círculo do amor. Ele é a condição para todas as outras formas de amor.

Fecho os olhos e volto à minha infância. Contemplo o início da minha vida. O início foi o amor de meus pais, como homem e mulher. Eles foram atraídos um pelo outro por um forte instinto, por algo poderoso que atuou por trás deles. Contemplo esta força que os uniu e me curvo diante dela. Contemplo como meus pais se uniram e como resultei de sua união, com gratidão e amor. Depois meus pais me aguardaram, com esperança e também com receio esperando que tudo corresse bem. Minha mãe deu à luz com dores. Meus pais se contemplaram e se admiraram: Essa é a nossa criança? Sim, você é a nossa criança e nós somos seus pais. Eles me deram um nome e um sobrenome e disseram por toda parte: Este é o nosso filho. Eu tomo minha vida como membro dessa família.

A despeito de todas as dificuldades que ocorreram, principalmente em minha infância, a vida em si, não sofreu nenhum dano. Essas dificuldades podem exigir muito de mim. Quando, porém contemplo tudo o que pesou, por exemplo ser entregue a outras pessoas, não ter conhecido meu pai e outras situações difíceis, eu digo sim a isso, da maneira como aconteceu, e com isso recebo uma força especial. Então encaro meu pais e digo: O essencial eu recebi de vocês. Eu reconheço tudo o mais que vocês fizeram , seja o que for, mesmo que tenha envolvido alguma culpa. Eu reconheço que isso também pertence a minha vida e concordo com isso. Sinto em meu interior que sou meus pais, que os conheço por dentro. Posso me imaginar: onde sinto em mim a minha mãe? Onde em mim eu sinto o meu pai? Dos dois quem está mais em evidência e quem está mais escondido? Permito que ambos fiquem em evidência, encontrem-se e juntem-se em mim, como meu pai e minha mãe. Em mim eles permanecerão sempre juntos. Eu tomo todas as pessoas que me ajudaram de alguma forma, em meu coração e em minha alma. E quando tomo tudo isso com amor, sinto-me inteiro e em harmonia. Esse amor está em mim e se desenvolve em mim.

“Quando a família é colocada em ordem, o indivíduo pode sair dela. Então ele sente a força da família atrás de si. Somente quando a conexão com a família é reconhecida e a responsabilidade é vista claramente e distribuída, o indivíduo sente-se livre e pode seguir com seus assuntos pessoais sem nada do passado pesando sobre ele ou limitando.”