O que move uma pessoa que pula na água para salvar alguém que está se afogando?
Ela está obedecendo a um impulso de fazer o outro viver.
Pula desesperadamente oferecendo sua força redobrada, seu corpo, sua mente e sua alma para manter o outro vivo.
O que faz quem está se afogando?
Agarra-se ao seu salvador, o imobiliza, o impede de nadar pelos dois e assim o leva para o fundo.
Como fazer para trazer até a praia aquele que está se afogando sem morrer junto com ele?
O salvador não pode ser gentil com o afogado, nem carregá-lo no colo...
Ele faz o que tem que fazer, que é impedir que o afogado os levem para o fundo.
Só assim ambos terão mais chances de voltar vivos para a margem.
Morrer com o afogado é um gesto heróico, totalmente inútil e sem sentido.
Trazer o afogado para a margem é um ato pensado e planejado.
O salvador está lidando com sua onipotência de achar que pode arrancar do outro, aquilo que pode ser o seu destino.
E ao trazer o outro para a margem, não garante que ele não irá colocar-se em risco novamente com seu comportamento autodestrutivo.
Seu objetivo não é devolver o outro a vida e sim adiar a 'morte' que naquele momento pode ser evitada...
O maior risco é então, o do salvador colocar a sua própria segurança nas mãos do afogado e deixar com ele a responsabilidade de trazê-los para a margem.
Assim quem se salva, é aquele que deixa de cuidar do outro, mas passa a cuidar primeiro de si para não morrer. Planeja suas ações e age de modo a garantir que em primeiro lugar ele próprio terá chance de sair com vida…