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Simplesmente Mulher

Desde março deste ano tenho organizado um workshop chamado "Caminho de Transformação" dirigido para mulheres. São encontros que acontecem uma vez por mês. Uma tarde de autoconhecimento aos sábados que encerramos com um café delicioso. Neste grupo pudemos conversar sobre vários temas, trocar experiências, aprender, ensinar, se emocionar... enfim todos os encontros foram muito enriquecedores. Tem sido uma oportunidade para entender melhor as mulheres.

Este trabalho vem mostrando o que eu já suspeitava... as mulheres possuem essências fundamentais para vivermos num mundo melhor. De modo geral, nós conservamos traços interessantíssimos, com os quais podemos aprender muito. As mulheres costumam ser suaves, mesmo nos momentos duros, ter a intuição mais aguçada e conseguir cuidar dos outros. Quando o homem saiu para caçar e deixou a mulher cuidando do lar, durante séculos, nossas essências femininas foram vistas como sinônimos de fragilidade. Isso está mudando. Os homens começam a trabalhar seu lado feminino sem receios. E as mulheres, após décadas, podem enfim viver sem medo de serem tachadas de frágeis. Aos poucos o mundo vai ficando mais cor-de-rosa e por isso mesmo mais equilibrado. O feminine é dom tanto da mulher quanto do homem, só é preciso cultivá-lo.

As mulheres em geral possuem uma maneira mais delicada e doce de se colocar no mundo. Isso aparece principalmente na forma como ouço e recebo o que vem do outro e como devolvo isso a ele. Não é ser passivo, pelo contrário. É transmitir as idéias sem agredir ou dominar. A mensagem pode ser intensa, forte, mas mesmo assim serena e suave.

Na carreira profissional, em cargos de lideranças, negando sua natureza feminina, muitas delas são duronas e inseguras. Aos poucos vão percebendo que isso só atrapalha e que delicadeza na dose certa é infalível. Para atingir esse estágio, é preciso desacelerar.

Pensar antes de falar, segurar a agressividade. Podemos trilhar nossos caminhos bem mais suavemente. E fazer do mundo um lugar mais terno. Podemos nos equilibrar mais, sermos mais suaves, pacientes e receptivas. Saber que o que fazemos hoje vai ter peso amanhã. Isso é ser delicado.

Intuição é uma palavra que deriva do grego intuire que significa “ver por dentro”. O interessante é que, por uma série de razões, a tal da intuição manifesta-se com mais frequência entre as mulheres. O chamado sexto sentido não é lenda, mas um dom que a mulher conhece faz tempo. Existe realmente uma predisposição biológica no sexo feminino para perceber coisas que vão além do racional, de ouvir seu próprio corpo e ler mensagens que estão por trás das palavras dos outros. Enquanto pessoas que gostam de racionalizar tudo levam dias para se convencer de que determinada atitude é mesmo a melhor, os intuitivos cortam caminho e chegam a conclusões menos óbvias em menos tempo.

Outra característica do feminino é o acolher e o cuidar. Trata-se de um instinto maternal que quase sempre vai além da cria e acaba se refletindo na relação amorosa com o companheiro, com os amigos e também no ambiente de trabalho. E aparece desde muito cedo. Quem já não se divertiu observando uma garotinha brincar de boneca? Com o maior cuidado, ela veste, cuida, dá mamadeira e coloca o bebê para dormir. Esse lado mãezona, que durante décadas ficou restrito apenas à vida pessoal, ganha cada vez mais espaço no trabalho. Aprendemos na prática que acolher e ser compreensivas surte mais efeito do que ser agressivas. Cuidar e acolher, não é apenas ser atencioso em momentos difíceis. É também tolerar o diferente e treinar para ser mais flexível, quando necessário. É dar colo, saber ouvir e abrigar a dor alheia. Ao mesmo tempo que redescobrimos que colocar-se em primeiro lugar, não é uma atitude egoísta, mas necessária para estar inteira e cuidar de tudo que é necessário. Quem cuida e se preocupa vai devagar, arrisca muito quem não teme perder. Na hora em que acolho, não sou mais apenas eu, me torno também o outro acolhido. Deixo de ser um e me multiplico. O universo, em resposta, sorri e agradece.

"Não me dêem fórmulas certas, por que eu não espero acertar sempre. Não me mostrem o que esperam de mim, por que vou seguir meu coração. Não me façam ser quem não sou. Não me convidem a ser igual, por que sinceramente sou diferente. Não sei amar pela metade. Não sei viver de mentira. Não sei voar de pés no chão. Sou sempre eu mesma, mas com certeza, não serei a mesma pra sempre". Clarice Lispector